quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Um dia em Bragança

Fui fim de semana passado, no domingo, ao jogo entre Corinthians e Bragantino no ex-estádio Marcelo Stefani, atual Nabi Chedid. As curiosidades deste LONGOOO domingo começaram aí.
Meu, nada mais clássico que o estádio Marcelo Stefani em Bragança, o menor estádio a receber uma final de brasileiro, quando o time quadriculado ficou muito próximo de tirar o título dos Bambis em 91. Por que BEM NO DIA QUE EU FUI LÁ, os caras mudam o nome para esse filho da puta que é Nabi Chedid.

Mas tudo bem, vamos começar o dia pela manhã. Estava tudo planejado para eu acordar cedo, ir ao Pacaembu, assistir a final da Copa São Paulo em que o Corinthians foi hepta campeão. Mas, com um jogo as 11h da manhã só para ter transmissão da Globo, não consegui acordar e vi o jogo pela tv. Quase todo, pois tive a brilhante idéia de sair de sp antes do fim da partida para chegarmos antes da torcida que saiu direto do Pacaembu pra Bragança.

Cheguei em Bragança por volta das 2h da tarde, comprei tranquilamente o ingresso para cadeira com a torcida do Corinthians. Parei o carro e falei que só ia comprar ingresso. Aí o guardador de carro, uniformizado e com colete, me deu um ticket e disse: Compra lá, vai embora, e na volta mostra esse papel pro guardador de carro que não você não precisa pagar. Pensei: Nossa, o negócio aqui em Bragança é organizado.

Fui comer no Mcdonald´s e me impressionei. Mesmo ao lado do estádio, tinha uns caras com camisas do Palmeiras, São Paulo, Bragantino, parecia a Roxos & Doentes. Acho que o clima calmo do interior apaziguou os torcedores. Enfim, depois do número 2 com batata e guaraná grande, peguei o carro e voltei ao estádio. Obviamente sem vagas com os caras credenciados e organizados, com a confusão tradicional estabelecida, buzinas, caras correndo atrás de você falando: "Para aqui Curintxa, para aqui". Pensei: Agora sim, um jogo de futebol. Achei um lugar mais ou menos longe da entrada mas não precisei pagar nada, então tudo certo. Ficou elas por elas.

Indo em direção ao estádio, nenhum policial sabia indicar para onde era a tal da cadeira Corinthinas. Quando achei o caminho, uma policial me interceptou e disse: Aqui não é Corinthians, corinthians não pode passar, dá a volta". Tudo bem que hoje em dia o futebol ta violento, mas aí achar que eu,que estava com minha namorada, sem camisa de time, iria arranjar algum tipo de encrenca é demais. Desafiei a policial e continuei reto.

Entramos numa fila que devia ter umas 30 pessoas, na nossa frente, algo muito, mas muito tranquilo se comparado o que se pega para entrar no Pacaembu. Nisso, a mulher de trás da gente comenta: Mas que fila enorme, acho que não vai dar para entrar antes do início. Era 15h30 e o jogo as 17h. Como os Caipiras são ingênuos.

Porém, mal sabia que o burro era eu e estava na fila da cadeira do Bragantino. Tinha reparado que só tinha "erres" puxados conversando. Fui para uma fila mais adiante, já vi a Fiel, que devia ter voltado do Pacaembu já, vi uns bando de loco, me senti em casa. Aí, passou um cara de uns 50 anos, de camisa verde, e com aqueles barrigões que faz com que a camisa não caiba, sabe? Então, de bigodinho. Nisso, os corintianos começaram a zuar: O seu barriga, e essa camisa verde aí, não zica não, não zica. Entrei sem saber o que aconteceu, mas acho que não passou de uma zuação.

Entrei, mas era estilo arquibancada mesmo, apesar de o ingresso chamar "Cadeira Visitante". Vai intender...O negócio era dulado do campo, mas dulado mesmo. Parece aqueles campos de clube, que você assiste o jogo e consegue puxar a camisa do cara que vai cobrar escanteio. Fiquei muito feliz, por que finalmente todos iriam escutar meus comentários no jogo, como " Vai vai...Chuta, chuta no gol....Vamo fulano, vamo...isso, agora cruza..." e por aí vai. Comentários muito produtivos. Sem contar os xingamentos no banderinha, mas isso fica para depois.

Tinha uma hora para começar o jogo ainda e fui "abordado" por um vendedor de amendoim." O grande, cuida aí dos meus amemdoins que eu vo pega um negocio lá fora, pode ir pegando aí o que você quiser". Bom, fui comendo uns amendoins e esperei ele voltar, achando que ia me livrar do cara logo. Ele voltou com uma mochila, pegou o saco de amemdoim e falou: "agora cuida aí da minha mochila por favor" Eu com uma cara de decepcionado, concordei. Ele foi logo tirando o pau da reta: " Pode ver que aqui só tem capa para vender"...tirou todos os bolsos, abriu tudo, mostrou que eram só capas". Ainda deixou minha namorada pegar uma para ela, já que, apesar de cadeira coberta, uma chuvinha mais forte lá molharia todos.
Aliás, nunca comi tanto amemdoizinho daqueles na minha vida.

Bom, o jogo começou e eu com a mochila do cara. tudo bem, acho que em Bragança ninguém iria roubar uma mochila de capas de chuva. Com poucos minutos, o banderinha EXATAMENTE NA MINHA FRENTE, da um impedimento que não existiu, eu acho. Desço os dois degraus que me separavam dele e o xingo muito, muito mesmo. Com certeza o cara ouviu tudo. Olho para o lado, todos os corintianos me olhando. Parece que só porque dá pra ouvir, os caras tem vergonha de xingar. No Pacaembu, que não dá pra fala com o bandeira, os caras saem roucos só de xingar a mãe dele. Ali, que dava pra xingar, todos calados.

O primeiro tempo foi típico de Corinthians. Umas 420824984 chances de gols, mas todo mundo perdendo. Aí, em dois ataques do Bragantino eles levaram muito mais perigo que nois que ficamos cruzando bola na area o tempo todo. No intervalo, o cara finalmente levou a mochila dele, deu mais uns amemdoins pra gente e falou: "Se quiserem mais vargem, é só falar". Meu, esse amemdoinzinho tem mais apelidos que o Ronalducho. Mas vargem, eu nunca tinha ouvido falar. Cada uma que me inventam.

O ataque do Corinthians no segundo tempo era do outro lado do campo, então não vi porra nenhuma. Foi gol, comemorei tal, mas ninguém ao meu lado sabia dizer quem fez o gol, quem deu o passe ou como foi o gol. No fim, 1x0, vitória, três pontos, almoço no Mc, viagem de ida sem trânsito, carro parado tudo ok, não briguei com minha namorada, não pegamos confusão alguma, a chuva só começou mais forte novamente quando já estávamos no carro. Tudo certo. Isso pra mim é estranho. Quando está tudo certo, quer dizer que vai dá alguma bosta.

Pegamos a estrada umas 19h10 com a esperança de chegar em casa para o jantar, afinal em pouco mais de uma hora pela Fernão Dias, chegaríamos em São Paulo. Chegaríamos...
Depois de alguns quilômetros de trânsito, outros de fluxo bom, estávamos a cerca de 25km da capital quando o trânsito parou. Sabe aquele trânsito que anda bem pouquinho, para muito, anda pouco, para muito e você sempre acha que sua fila está mais devagar? Então, esse trânsito.

O azar das filas era tanto que, comecei a olhar os carros mais próximos das outras filas, para ver que fila estava mais rápida. Sempre a outra andava mais. Aí eu mudava, e a que eu estava andava mais e a minha parava. E assim sucessivamente como Murphy me ensinou.
Até que uma hora o trânsito parou de vez, mas parou mesmo. De todo mundo desligar o carro, por volta das 20h30, 21h. Nisso, ligamos o rádio numa estação que fala das estradas para saber o que estava acontecendo.

A mulher do rádio dizia: " A estrada tal já está com trânsito bom, a outra também, a outra também" Ai ela parou, respirou e disse: " Agora, quem chega pela Fernão Dias tem vida complicada porque a Defesa Civil impediu a entrada de carros e caminhoes na cidade pela estrada pois havia um ponto de alagamento".

Ficamos parado na estrada, sem luz, sem comida nem bebida por umas três ou quatro horas. Aqueles malditos vendedores de farol não estavam lá, e a sede a fome começou a bater em mim e na minha namorada, afinal, só aquele número 2 e os amemdoizinhos não tinham surtido efeito.
Lembrei que no carro, ainda tinha um champagne que havia sobrado do reveillon. A sede que estávamos em função daqueles amemdoinzinhos era tamanha que abrimos ele quente, muito quente e bebemos no gargalo.

Nisso, começamos a ver uma procissão de corintianos pela Fernão Dias. Os Gaviões, pavilhao nove, camisa 12, coringao chopp, fiel macabra, todas, todas as torcidas andando a pé. Eu não sabia onde eles estavam indo, mas fiquei com medo. Preconceitos a parte, me caguei muito. Mas tudo bem, todos passaram gritando, normal, e continuaram andando. Não sei para onde.

Nesse momento, minha mae ligou para avisar do que havia acontecido na Fernão Dias. Contei que estava no escuro, com todos os carros desligados, e que nao tinha previsão de abertura da estrada. Ela perguntou: "Mas e assalto, eu tenho medo de assalto. Quem está ao seu lado, na sua frente e tal". Preferi não assuntá-la e não contei que estávamos exatamente ao lado de um busão da Gaviões. Para muitos, nada mais perigoso que isso. Mas enfim.

Deitamos o banco do carro, e praticamente dormimos um pouco, quando começou a bateria da Gaviões, cantando todos os gritos de guerra. A animação deles não acabavam. Mesmo depois de cantarem durante 90 minutos, mais o que cantaram no jogo da manhã na final da copa sp, mais o que cantaram antes do jogo, o que cantaram depois, os caras tinham forças para a meia noite continuarem batucando e cantando " o coringao voltou" "aqui tem um bando de loco" "quem nao for corintiano vai pra puta que pariu" e tudo mais.

Por volta da uma e meia da manhã, acordei com uns gritos de comemoração, carros ligando, buzinas. Finalmente havia sido liberada a estrada! Faltavam cerca de 5km para chegar no ponto de alagamento, que estava uns 10km distantes da cidade de são Paulo. Nesses 5km, ainda numa média de 20km ou 30km por hora, fiquei procurando os corintianos que haviam descido dos onibus e ido a pé. Tudo bem que muitos moravam na periferia, mas não é possível que ao lado da FERNÃO DIAS. No local do alagamento, tinha um rancho da pamonha lotado de carros, e muitos, mas muitos corintianos. Ficaram enchendo a barriga de Pamonha.

2h30 da manhã chegamos em casa. Finalemente, depois de mais de 12hs de epopéia, cheguei a uma conclusão: O mais importante é que o timão ganhou.
e hoje tem mais!!!!!
vai corinthians

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